No século XVII, a Igreja Ortodoxa Russa levou a cabo reforma em sua liturgia, isso não agradou uma parte dos crentes ortodoxos, que se rebelaram e não aceitaram tal reforma. Esses crentes que resistiram a essa reforma eram chamados de “velhos crentes”, e também ficaram conhecidos como “cismáticos” (raskolniki), por terem promovido um cisma (raskol) na Igreja Ortodoxa Russa. Sobre o raskol escreveu Filoramo (2005, p. 105):
“O termo russo indica o cisma que, na metade do século XVII, dividiu a Igreja Ortodoxa Russa. Devido ao desejo do patriarca Nikon (1605 – 1681, eleito em 1652) de fazer uma revisão da liturgia grego-ortodoxa no que diz respeito ao modelo grego-bizantino, uma parte dos crentes se rebelou, não aceitando a reforma. Teve inicio o cisma dos ‘velhos crentes’. Eles recusavam a mudança de alguns rituais particulares aparentemente pouco importantes, como a maneira diferente de fazer o sinal da cruz, com três dedos em vez de dois, e o uso da tríplice aleluia. Excomungados em 1667, eles foram duramente perseguidos (o próprio Nikon também caiu em desgraça e foi deposto, mas a reforma litúrgica foi mantida). Uma figura exemplar entre os cismáticos é o arquipresbítero Avvakum, cujos escritos constituem o documento mais significativo do protesto e uma fonte preciosa de informação histórica.
O raskol deve ser visto sobretudo como a oposição da Rússia camponesa e arcaica às tentativas de modernização e de europeização que as autoridades civis e religiosas russas procuraram realizar e culminaram na ‘reforma’ de Pedro, O Grande.”
A título de curiosidade, o último nome do personagem da obra Crime e Castigo, "Raskólnikov", obra escrita pelo russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), é baseado no cisma que deu origem a Igreja Ortodoxa Russa.
Bibliografia
FILORAMO, Giovanni. Monoteísmos e dualismos: as religiões de salvação. São Paulo: Hedra, 2005.
* Sobre a imagem: O velho padre crente Nikita Pustosvyat disputa com o patriarca Joachim sobre questões de fé. Pintura de Vasily Perov (1880).
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