Breve resumo sobre a história do cristianismo
- Igor Emerich
- 27 de jul. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 12 de out. de 2022
O cristianismo surgiu na Palestina, na primeira metade do século I, território que desde 64 AEC estava sob domínio do Império Romano. Era, no começo, mais uma seita do judaísmo, tal como a dos saduceus, fariseus, essênios e zelotes. Seu líder foi Jesus de Nazaré. Segundo Vasconcellos e Funari (2013), os seguidores de Jesus nessa época eram chamados de nazarenos (por causa do seu mestre), seguidores do caminho ou pobres (em hebraico, ebionitas). Depois da morte de Jesus, seguidores helenistas de origem cipriota e cirenaica que viviam em Antioquia envolveram entre os conversos, como nos diz Potestá e Vian (2013, p. 15), “gregos”, que ficaram conhecidos nas igrejas como “gentios”. Foi também em Antioquia, entre os anos 35 e 38, ainda conforme os últimos autores citados, que provavelmente esses “gentios” foram chamados de “cristãos” pela primeira vez (cf. Atos 11:26).
Em pouco tempo, o movimento de Jesus, uma seita judaica, distinguiu-se e separou-se do judaísmo, começou a ser chamado de cristianismo, passou de judaico a antijudaico e expandiu-se pelo Império Romano, transformando-se em religião oficial desse império no ano de 380, através de um decreto do imperador bizantino Teodósio I. Mas antes de o cristianismo se tornar a religião oficial do Império Romano, muitos de seus fiéis foram perseguidos, presos e mortos por alguns imperadores romanos - Nero (54-68), Maximino Trácio (235-238), Décio (239-251), Diocleciano (284-305), Galério (305-311)-, por não se curvarem e sacrificarem aos deuses romanos. Só em 313, com a assinatura do Édito de Milão pelo imperador Constantino I, põe-se um fim as perseguições contra os cristãos. De perseguidos, esses cristãos torna-se perseguidores. Foi Constantino I, também, quem convocou e presidiu o Primeiro Concílio de Niceia, em 325, onde se buscou uma unificação da cristandade estabelecendo um credo comum a todos os cristãos, o Credo de Niceia, e estabelecendo, também, a divindade de Jesus, além de promulgar a lei canônica. Tanto alguns proeminentes líderes cristãos quanto o imperador tinham muita coisa a ganhar com as decisões político-teológicas do referido Concílio. Conforme Ramalho, Funari e Carlan (2016, p. 69): "Do mesmo que Constantino via na restauração da Monarquia uma unidade no império, os líderes cristãos queriam uma unidade institucional e dogmática para sua religião. Com isso, os interesses de Constantino e de líderes cristãos como Eusébio pareciam coincidir".
Na Idade Média a Igreja já era uma das mais (se não a mais) importantes e poderosas instituições, tudo girava em torno dela. Ela conseguiu consolidar o seu poder e se expandir ainda mais, mesmo depois da desagregação do Império Romano do Ocidente em 476, devido a conversão dos povos germânicos que haviam conquistado a porção ocidental do Império Romano. Ela controlava boa parte dos territórios feudais e acumulara muitos bens. Os governantes eram coroados pelos papas, a cultura e a educação também dependiam do aval da Igreja. Até a economia era controlada pela Igreja, pois essa mesma Igreja condenava o lucro excessivo (a que chamava de usura) e aceitava só o chamado "justo preço", que levava em conta a soma da matéria prima mais a mão-de-obra usados na produção (cf. SOUSA). A Igreja condenava também o empréstimo a juros que muitos burgueses e artesãos pegavam para atender suas demandas produtivas, mas com o tempo esse posicionamento da Igreja foi se flexibilizando (cf. SOUSA). Quando se fala do poder da Igreja durante a Idade Média, há que se falar também da Inquisição por meio da qual essa Igreja prendeu, processou e condenou muitas pessoas, inclusive com pena de morte, por heresia, e há que se falar também das Cruzadas (1096-1270), que, segundo Hilário Franco Junior (1989, pp. 7-8), foram expedições militares (na maioria da vezes solicitadas pelos pontífices) que eram acompanhadas pelos papas e um representante seu e que tinham a finalidade de combater os inimigos da cristandade: "hereges" e "pagãos".
Foi também na Idade Média, em 1054, que aconteceu o chamado Grande Cisma, uma ruptura entre a Igreja Católica Romana, no Ocidente, e a Igreja Ortodoxa, no Oriente. Essa ruptura se deu devido a disputas eclesiásticas e teológicas, onde os líderes das duas Igrejas excomungaram-se mutualmente. Massacres, saques e cercos marcaram as relações entre o Oriente e Ocidente cristãos. A Quarta Cruzada (1202-1204), por exemplo, empreendimento que deveria tirar a Terra Santa das mãos dos muçulmanos, foi desviada para a capital cristã do Oriente, Constantinopla, que foi tomada e saqueada pelos cruzados. Esse e outros conflitos dificultaram uma reconciliação entre o Ocidente e Oriente cristãos, até que, em 1966, as excomunhões foram retiradas, o que deu início a uma reaproximação entre as duas igrejas.
Outro episódio importante na história do cristianismo foi a Reforma Protestante, que marcou o início da Idade Moderna. Já durante a chamada Baixa Idade Média (1300-1500) uma série e acontecimentos e mudanças de paradigmas começaram a pôr em xeque a autoridade e poderio da Igreja. Era o começo de uma nova era. A Guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra e França, durante a década de 1330, marcou o processo de formação das monarquias nacionais inglesa e francesa; o Renascimento (1350-1550), propôs mudanças no campo da arte, da cultura e da ciência; a teoria heliocêntrica do físico Nicolau Copérnico, defendida por Galileu Galilei e Giordano Bruno, é um dos exemplos que pôs em xeque o monopólio dos saberes controlado pela Igreja; a Peste Negra, que na década de 1340 dizimou boa parte da população europeia, também provocou mudanças na Europa. Ainda durante a Baixa Idade Média, havia muitas críticas de monges e teólogos católicos contra a Igreja. As críticas de John Wyclif, na Inglaterra, na década de 1370, e as de Jan Hus, na Boêmia, no começo do século XV, embora não contasse com o apelo popular (dificilmente alguém estaria disposto a ir para a fogueira da Inquisição defendendo "heresias"), deixou claro a insatisfação desses importantes intelectuais, cujas interpretações da doutrina cristã influenciariam Martinho Lutero (cf. EDWARDS, 2003, pp. 361-362). O monge agostiniano alemão Martinho Lutero se posicionou contra a venda de indulgencias que perdoavam vivos e mortos por seus pecados, rejeitou o papado e paulatinamente fez campanha contra quase todo o sistema medieval (cf. EDWARDS, 2003, p. 362). Em 1517, Lutero apresentou suas 95 teses desafiando autoridades teológicas a uma disputa escolástica, que era um método formal de debate que tinha o objetivo de descobrir “verdades” tanto na teologia como na ciência. O papa Leão X exigiu que Lutero se retratasse sob a ameaça de ser condenado por heresia, mas Lutero não aceitou e rompeu com a Igreja.
Desde a apresentação de suas teses até 1521, as críticas do reformador cristão se tornavam ainda mais radicais. Ele comprou uma briga com a Igreja e precisava da ajuda dos príncipes alemãs. Segundo Edwards (2003, p. 363), Lutero teve de persuadir tais príncipes “a se posicionarem contra o papa e o Sacro Império Romano e permitiu-lhes maior autoridade em todos os assuntos, menos na pregação. Mas continuou conservador em alguns aspectos como, por exemplo, ensinando que, a missa, a ‘substância’ do corpo e do sangue de Cristo juntava-se à substância do pão e do vinho”. Nessa época a Alemanha não era unificada, ela era formada por uma série de pequenos principados que faziam parte do Sacro Império Romano (ou Sacro Império Romano-Germânico). Essa era a oportunidade dos nobres desses principados de contestarem as posses de terra pela Igreja e pelos nobres fiéis a essa Igreja e ao mesmo tempo buscar expropria-las. “Esse uso político do pensamento luterano acabou por gerar as primeiras guerras civis religiosas da Europa moderna” (FERNANDES). A Reforma Protestante se espraiou pela Europa. Dessa Reforma surgiram, então, além da Igreja Luterana, a Igreja Calvinista, a Igreja Anglicana, a Igreja Presbiteriana e a Igreja Batista, e do seio dessas surgiram, posteriormente, várias outras igrejas. A Igreja Católica reagiu e com o objetivo de combater o crescimento do protestantismo, o papa Paulo III convocou o Concílio de Trento (1545-1563), em que se reafirmou o poder papal e se organizou a Igreja. Esse movimento ficou conhecido como Reforma Católica ou Contra Reforma.
Os séculos XVIII e XIX também foram séculos de muitas descobertas e transformações. O Iluminismo surgiu nesse período. A “razão” era o grande instrumento de reflexão capaz de melhorar o funcionamento das instituições, defendiam os iluministas. As instituições religiosas foram bastante atacadas por esses iluministas, que frequentemente questionavam dogmas religiosos e a própria noção da essência de Deus. Segundo eles, o homem deveria buscar a essência de Deus com base na razão. Os iluministas criticaram também a intromissão da Igreja em assuntos políticos e econômicos.
O cristianismo é hoje a maior religião do planeta com cerca de 2,3 bilhões de fiéis distribuídos em três grandes ramos: catolicismo, protestantismo e ortodoxos. A influência do cristianismo na cultura, na linguagem e na literatura ocidentais é inegável. A história ocidental foi marcada por essa influência.
Bibliografia
EDWARDS, David L. Cristianismo. In: BOWKER, John (org.). O livro de ouro das religiões: A fé no Ocidente e no Oriente, da pré-história aos nossos dias. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
FERNANDES, Cláudio. O que são as 95 teses de Lutero? Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-sao-as-95-teses-lutero.htm. Acesso em 28 de jul. 2020.
JUNIOR, Hilário Franco. As Cruzadas. São Paulo: Brasiliense, 1989.
POTESTÁ, Gian Luca; VIAN, Giovanni. História do Cristianismo. São Paulo: Edições Loyola, 2013.
RAMALHO, Jefferson; FUNARI, Pedro Paulo; CARLAN, Claudio Umpierre. Constantino e o triunfo do cristianismo na Antiguidade Tardia. São Paulo: Fonte Editorial, 2016.
SOUSA, Rainer Gonçalves. A usura e o justo preço. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-usura-justo-preco.htm. Acesso em 27 de jul. 2020.
VASCONCELLOS, Pedro L.; FUNARI, Pedro Paulo A. Paulo de Tarso: um apóstolo para as nações [livro eletrônico]. São Paulo: Paulus, 2013.
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