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Foto do escritorIgor Emerich

Ritual Ma'nene: a vida e a morte para os Toraja

Atualizado: 15 de set.



Fonte: Aventuras na História

Há séculos (não se sabe ao certo há quantos séculos, haja vista não existirem registros históricos escritos precisos sobre os rituais funerários de que trataremos e a principal fonte que dispomos sobre o tema ser a tradição oral), a cada dois anos, após a colheita do arroz, em agosto ou setembro, os Toraja, um povo indonésio concentrado na ilha de Sulawesi celebram um dos rituais funerários mais singulares e complexos do mundo. A morte, para eles, não é o fim, mas sim uma transição para outro estado de existência. Por isso, seus rituais funerários são elaborados e carregados de simbolismo, envolvendo toda a comunidade durante vários dias. O ritual Ma’nene ou "Cerimônia de Limpeza do Cadáver", consiste em exumar, vestir e expor em procissão o corpo do morto da família no que se considera uma grande festa onde celebra-se a vida e a morte.

 

A morte como uma festa


Ao invés de ver a morte como um momento de luto, os Toraja a celebram como um grande evento. Quando alguém morre, o corpo não é enterrado imediatamente. Em vez disso, ele é tratado como se ainda estivesse vivo, sendo alimentado e participando das atividades familiares. Essa prática se deve à crença de que a alma da pessoa ainda está presente e precisa de tempo para se preparar para a jornada ao mundo dos espíritos.

 

A cerimônia funerária


Quando a família está pronta para realizar o funeral, uma grande celebração é organizada. A cerimônia envolve diversos rituais, como:


Sacrifício de búfalos: Os búfalos são considerados animais sagrados e seus chifres são símbolos de status social. O número de búfalos sacrificados durante o funeral depende da riqueza e posição social do falecido.


Danças tradicionais: Dançarinos vestidos com trajes coloridos executam movimentos elaborados para honrar o falecido e os espíritos ancestrais.


Procissão fúnebre: O corpo do falecido é transportado em um caixão ricamente decorado para o local de sepultamento, acompanhado por familiares, amigos e membros da comunidade.


Sepultamento: Os corpos são geralmente colocados em cavernas ou túmulos esculpidos em penhascos, em posições que simulam a vida cotidiana.


O significado dos rituais


Os rituais funerários Toraja têm um profundo significado cultural e religioso. Eles servem para:


Honrar os ancestrais: Os Toraja acreditam que seus ancestrais desempenham um papel importante na vida da comunidade e que os rituais funerários fortalecem os laços entre os vivos e os mortos.


Assegurar a passagem para o mundo dos espíritos: Os rituais são considerados necessários para garantir que a alma do falecido possa fazer uma transição segura para o outro mundo.


Demonstrar o status social: A ostentação e a riqueza demonstradas durante os funerais servem para reafirmar a posição social da família do falecido.


Os tau-tau: efigies ancestrais dos Toraja



Os tau-tau são figuras de madeira esculpidas que representam os ancestrais do povo Toraja, na ilha de Sulawesi, Indonésia. Essas efigies possuem um papel fundamental na cultura e nos rituais funerários dos Toraja, servindo como guardiões espirituais e recordações dos falecidos.


Características dos tau-tau:


  • Representação: Os tau-tau são esculpidos com grande realismo, buscando capturar a aparência física e a personalidade do falecido.

  • Material: A madeira é o material mais utilizado para a confecção dos tau-tau, embora outras matérias-primas como o bambu também possam ser empregadas.

  • Vestuário: As efigies são vestidas com roupas tradicionais e adornadas com joias, refletindo o status social do falecido em vida.

  • Tamanho e forma: O tamanho e a forma dos tau-tau podem variar, mas geralmente são figuras humanas em tamanho natural, em pé ou sentadas.


Significado cultural:


  • Honra aos ancestrais: Os tau-tau são uma forma de honrar e lembrar os antepassados, perpetuando sua memória e importância para a comunidade.

  • Proteção espiritual: Acredita-se que os tau-tau possuem poderes espirituais e protegem a família e a comunidade dos males.

  • Símbolo de status social: A elaboração e o tamanho do tau-tau podem indicar o status social e a riqueza da família do falecido.


Papel nos rituais funerários:


Os tau-tau desempenham um papel central nos elaborados rituais funerários dos Toraja. Durante a cerimônia, as efigies são colocadas junto ao corpo do falecido ou em um local de destaque na casa familiar. Acredita-se que, ao criar uma representação física do falecido, os Toraja facilitam a transição do espírito para o mundo dos ancestrais.


Importância contemporânea:


Apesar das mudanças sociais e religiosas que ocorreram na sociedade Toraja, os tau-tau continuam a ser valorizados e produzidos. As efigies são vistas como um símbolo da identidade cultural Toraja e são frequentemente utilizadas em eventos turísticos e culturais.

Em resumo, os tau-tau são muito mais do que simples esculturas de madeira. Eles representam a profunda conexão dos Toraja com seus ancestrais, a importância da família e a rica tradição cultural desse povo indonésio.

 

A preservação da cultura Toraja

 

Apesar do contato com a modernidade, os Toraja se esforçam para preservar suas tradições funerárias. No entanto, a crescente influência da cultura ocidental e as mudanças econômicas representam desafios para a manutenção desses rituais, que não são nada baratos.


Ainda que algumas estimativas apontem que mais membros dos Toraja vivam fora de sua terra natal, mesmo longe, esses Toraja continuam vendo em seus rituais funerários uma importante característica de sua cultura, aquilo que os define como Toraja. Muitos desses Toraja que moram no exterior acabam voltando para sua terra natal a cada dois anos para participar desses rituais fúnebres, e os que não conseguem, participam ativamente através de redes sociais como o Facebook e ajudam com alguma quantia, é assim preservam sua cultura.


Esses rituais funerários mexem com o imaginário de muita gente em todo o mundo, por isso, muitas pessoas viajam para Sulawesi a fim de observar tais rituais, no que ficou conhecido como “turismo mortuário”, por vezes criticado.

 


 

Referências

 

ADAMS, Kathleen M. Families, Funerals and Facebook: Reimag(in)ing and ‘Curating’ Toraja Kin in Trans-local Times. TRaNS: Trans -Regional and -National Studies of Southeast Asia / FirstView Article / Mar. 2015, pp. 1 – 28. Disponível em: http://journals.cambridge.org/abstract_S2051364X14000258. Acesso em: 14 set. 2024.

 

CORONADO, Judith Bonilla; LICONA, Maria Paula Vidal; RAVILLI, Gabriela Agustina et al. Conception of death in different cultures and funeral rites in Bolivia, China, Indonesia, Madagascar and USA. Community and Interculturality in Dialogue, 2023; 3:64. Disponível em: https://cid.ageditor.ar/index.php/cid/article/view/50. Acesso em: 14 set. 2024.

 

ADAMS, Kathleen M. Leisure in the “Land of the Walking Dead”: Western Mortuary Tourism, the Internet, and Zombie Pop Culture in Toraja, Indonesia. In Leisure and Death An Anthropological Tour of Risk, Death, and Dying, A Kaul and J. Skinner (eds.). Denver: University of Colorado Press, 2018. Disponível em: https://ecommons.luc.edu/anthropology_facpubs/18/. Acesso em: 14 set. 2024.

 

 

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